Caminhos de Niterói: debate sobre segurança pública enfoca papel da tecnologia e da integração para reduzir criminalidade

2025-12-02 HaiPress

O mediador Rafael Galdo (à esquerda),o coronel Leonardo Oliveira,o prefeito Rodrigo Neves e os especialistas Carolina Grillo e Alberto Kopittke — Foto: Fabiano Rocha

RESUMO

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GERADO EM: 01/12/2025 - 22:16

Niterói: Tecnologia e Integração Social Reduzem Criminalidade

O encontro "Caminhos de Niterói" abordou a segurança pública,destacando a integração de tecnologia,gestão territorial e ações sociais para combater a criminalidade. Desde o "Pacto Niterói Contra a Violência" em 2018,houve quedas significativas nos índices criminais. O colombiano Hugo Acero enfatizou a importância de políticas integradas e o envolvimento comunitário,enquanto o prefeito Rodrigo Neves destacou investimentos de R$ 19 milhões anuais em segurança. A tecnologia,como o cercamento eletrônico e o sistema Shotspotter,foi apontada como diferencial.

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A transformação de Niterói na segurança pública,sobretudo na última década,foi o ponto de partida para a primeira edição do encontro Caminhos de Niterói,realizado nesta segunda (1º) no auditório da Editora Globo,no Centro,e mediado pelo jornalista Rafael Galdo,editor de Rio do GLOBO. O evento reuniu especialistas para discutir como a integração entre tecnologia,gestão territorial e ações sociais pode resultar em políticas eficientes de proteção urbana. Desde 2018,quando o Pacto Niterói Contra a Violência foi criado,o município registrou quedas significativas nos principais indicadores criminais,invertendo uma tendência histórica que colocava o município em situação mais grave que a cidade do Rio de Janeiro. O Caminhos de Niterói é uma realização dos jornais O GLOBO e Extra com apoio da Prefeitura de Niterói.

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Entre os palestrantes destacou-se o colombiano Hugo Acero,um dos principais nomes da segurança cidadã na América Latina. Ex-secretário de Segurança de Bogotá,Acero abriu o debate afirmando que a segurança pública não pode ser vista apenas como sinônimo de operação policial e alta letalidade de criminosos. Para o colombiano,a chave do sucesso está também no trabalho em equipe coordenado com a comunidade local,que atenda a suas reais necessidades de serviços públicos,como educação,saúde e cultura.

— Primeiro,é preciso reconhecer o problema. Quando chegamos a Bogotá,a cidade tinha uma taxa de 80 homicídios por cada cem mil habitantes. Nove anos depois,saímos com uma taxa de 23,e hoje a taxa está em 14. Na Colômbia,os prefeitos têm responsabilidade constitucional e legal em matéria de segurança. Então,nosso prefeito,em uma cidade de oito milhões de habitantes,assumiu essa liderança. Liderança de quem governa,seja presidente,governador ou prefeito — disse o especialista ao lembrar que,no início dos anos 2000,o poder público na capital colombiana enfrentou guerrilhas,crime organizado e ações terroristas,comandadas pelo traficante e narcoterrorista Pablo Escobar.

O especialista detalhou que a estratégia contra o crime incluiu a convocação da Polícia Nacional,do Departamento de Inteligência,do Ministério Público,das Forças Militares e da Justiça. Para Acero,a questão fundamental da América Latina é a ausência do Estado em certas áreas.

O colombiano Hugo Acero,um dos principais nomes da segurança na América Latina,abriu o encontro — Foto: Fabiano Rocha

— Se o Estado não conseguir recuperar esse território com inteligência,com investigação criminal,com justiça,com segurança e com desenvolvimento,não é possível que isso aconteça. Tem que ir atrás das ligações políticas,porque o verdadeiro traficante não mora na favela — salientou.

Outro modelo de gestão

O prefeito Rodrigo Neves afirmou que a decisão de Niterói de investir em segurança pública como uma escolha política contrariou o consenso entre seus conselheiros,há dez anos. Na época,a maioria dos aliados políticos desaconselhava o envolvimento direto do município na área de segurança,argumentando que a Constituição atribui aos governadores a responsabilidade de administrar as polícias. No entanto,Rodrigo avaliou que os governos estaduais,sozinhos,já não eram capazes de enfrentar o desafio da violência urbana.

— O cidadão não é federal,não é estadual,nem municipal. Ele é cidadão. E como cidadão,ele espera do Estado brasileiro uma resposta que lhe garanta o direito de viver e uma segurança pública mais eficiente nas cidades. Na época,a cidade (Niterói) vivia uma realidade dramática,com indicadores de criminalidade superiores aos da capital fluminense. O roubo de veículos era igualmente alarmante. As ruas eram palco de assaltos à luz do dia,com a atuação do chamado “bonde do fuzil” gerando um clima de pavor entre moradores e visitantes. Niterói,há dez anos,tinha uma realidade completamente diferente da que tem hoje. Não existem soluções simples para problemas complexos — relatou.

O prefeito lembrou ainda das mudanças ao longo do tempo até o momento atual,quando o investimento municipal em segurança pública alcança R$ 19 milhões anuais destinados às polícias — R$ 12 milhões para a Polícia Militar e R$ 7 milhões para a Polícia Civil. Além desses recursos,Niterói investiu em programas sociais,esporte e tecnologia de monitoramento.

Alberto Kopittke,diretor-executivo do Instituto Cidade Segura e consultor responsável por apoiar a cidade na elaboração do Pacto Niterói Contra a Violência,criticou a abordagem tradicional de segurança pública no Brasil. Segundo ele,muitos prefeitos que decidem atuar na área acabam cometendo o erro de militarizar suas guardas municipais sem implementar mudanças estruturais no modelo de gestão.

— É uma visão antiga. Alguns prefeitos que resolvem entrar no tema acabam criando uma pequena PM azul-marinho. Pegam as guardas municipais,botam o fuzil na mão e dizem: “Fiz minha parte”. E sem nenhum plano,sem mudança no modelo de segurança pública,numa visão totalmente desintegrada. Eu acho que o que Niterói mostra para o Brasil é justamente esse papel da política,com P maiúsculo,de integrar as instituições,de unir a sociedade. Só existe crime organizado quando as instituições estão desorganizadas — argumentou.

Kopittke destacou o trabalho de longo prazo realizado no Caramujo,na Zona Norte,que se tornou símbolo da estratégia integrada de recuperação territorial adotada pelo município. Ao contrário do modelo de operações policiais pontuais e desarticuladas que predomina em outras cidades,disse,em Niterói o processo envolveu cinco anos de planejamento detalhado antes da entrada efetiva das forças de segurança na comunidade.

O consultor foi enfático ao criticar o modelo de operações pontuais que há décadas caracteriza a política de segurança do Rio de Janeiro. Segundo Kopittke,o Rio repete o mesmo padrão: operações policiais que sobem as comunidades e descem,sem transformação territorial efetiva.

A professora Carolina Grillo,coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni),da UFF,explicou por que o combate ao roubo de veículos deve ser considerado estratégico nas políticas de segurança pública. Segundo a especialista,o roubo é a principal causa da sensação de insegurança por parte da população,pois atinge de forma indiscriminada todos os estratos sociais.

— O tráfico de drogas é mais visível para uma parcela da população,mas não é diretamente violento. E os homicídios,é claro,são o principal indicador da violência,mas muitas vezes são concentrados numa população que possui algum envolvimento com práticas criminais. Mas o grosso da população,todo mundo,está sujeito ao risco de ser assaltado. E principalmente o roubo armado,mais do que o furto,deixa as pessoas com medo,porque representa um risco para a sua segurança física,a sua integridade física e a sua segurança patrimonial — afirmou.

Carolina detalhou o efeito multiplicador dos roubos de veículos sobre outros crimes,lembrando que os carros tomados de seus donos são utilizados posteriormente para a prática de outros roubos,como os de rua. Os veículos são mantidos no interior de territórios controlados por grupos armados e usados repetidamente em ações criminosas. Por essa razão,ações como o cercamento eletrônico implementado em Niterói têm um impacto significativo na redução dos roubos em geral.

O coronel Leonardo Oliveira,comandante do 12º BPM,trouxe ao debate a perspectiva operacional das forças de segurança. Com 29 anos de carreira na corporação,tendo trabalhado em batalhões de Itaperuna,Magé,Cabo Frio e Rio de Janeiro,o oficial destacou que Niterói representa uma experiência diferenciada,pelo que classificou como esforço genuíno da gestão municipal em compreender as dificuldades institucionais enfrentadas e atuar de forma propositiva para superá-las.

A tecnologia compartilhada foi apontada pelo coronel como um dos principais diferenciais de Niterói. Ele mencionou o Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp),que funciona como uma central de inteligência fornecendo informações em tempo real para as polícias.

—O sistema de cercamento eletrônico permite o rastreamento de veículos roubados. Em 2025,foi instalada uma nova tecnologia chamada Shotspotter,sistema que detecta automaticamente disparos de arma de fogo,permitindo que as polícias mapeiem onde ocorrem mais tiroteios e respondam imediatamente — listou ainda o comandante.

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