2025-12-02
HaiPress

Bebidas expostas no Cafofo Bar — Foto: Divulgação
GERADO EM: 01/12/2025 - 19:22
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A crise das bebidas alcoólicas adulteradas com metanol provocou uma incômoda sensação de déjà-vu em quem trabalha em bares e restaurantes da cidade. Embora não tenha sido confirmados casos de intoxicação no estado do Rio,a crise trouxe impacto para o setor e houve quem lembrasse dos tempos da pandemia de Covid-19. A boa notícia é que a situação,pelo que tem sido observado nas casas do ramo,começa a dar sinais de recuperação.
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— A única vez que vi o consumo de drinques despencar tanto foi na pandemia — lembra a bartender Jessica Sanchez,consultora da Casa Horto.
O P’Alma — que é parte da Casa Horto juntamente com o Pátio e o Empório 1839 — vendia cerca de 500 drinques por semana antes da crise,que eclodiu em setembro. Na semana seguinte ao registro dos primeiros casos de intoxicação foram comercializados apenas 50 coqueteis. A procura foi retornando aos poucos e hoje já está na faixa dos 350 semanais.
— A Casa Horto enfrentou dias de tensão,mas acredito que a confiança da clientela nas bebidas que servimos foi restabelecida — afirma Sanches. — E acho que essa crise fez com que as pessoas passassem a consumir produtos do tipo com mais consciência e só em estabelecimentos sobre os quais não pairam dúvidas.

Jessica Sanchez,consultora da Casa Horto — Foto: Divulgação/Raphael Urjais
No auge da crise do metanol,o P’Alma voltou seus esforços para drinques como Aperol Spritz,por exemplo. A decisão foi tomada após a constatação de que a preocupação dos consumidores estaca concentrada mais em destilados como vodca e gin foco maior dos falsificadores. O fato de que a Casa Horto produz seu próprio gin,o OBY,ajudou bastante a manter a confiança dos clientes. Elaborado artesanalmente com 22 botânicos da Mata Atlântica,é o mais utilizado no preparo de drinques por lá.
— Todo bar ou restaurante no qual as bebidas destiladas compõem parte relevante do mix de vendas sentiu um baque muito grande com essa crise — disse Fernando Blower,presidente do sindicato de bares e restaurantes do Rio de Janeiro,o SindRio. — E os estabelecimentos mais afetados foram aqueles que nunca fizeram nada de errado. Graças à desinformação,no entanto,eles acabaram penalizados pela prática daqueles que usam bebidas adulteradas.
No Cafofo Pub,em Botafogo,a recuperação nas vendas está no meio do caminho. O estabelecimento afirma que vendia cerca de mil drinques por semana até a crise do metanol. Hoje a casa tem comercializado cerca de 500 a cada sete dias. Nas primeiras duas semanas após o início da crise,as vendas de coqueteis por lá despencaram 95%.
— A procura está numa curva ascendente. Por sorte,nesta época não perdemos público,que migrou,principalmente,para a cerveja — conta o empresário Marcos Tulio Filho,um dos sócios.
Logo no início da crise,lembra ele,muitos consumidores trocaram os coqueteis por um tipo específico de cerveja: aquelas sem álcool. A explicação pode estar num mix de desconhecimento das causas do problema àquela altura e decisão de não correr qualquer tipo de risco desnecessário.
Jonas Aisengart,um dos sócios do grupo que é dono do Pope,do Quartinho e do Chanchada,num total de 11 restaurantes e bares no Rio — o 12º estabelecimento,a trattoria Giancarlo,está prestes a abrir — diz que entre seus empreendimentos,o que mais vende drinques é o Quartinho,também em Botafogo. A venda de drinques chegou a bater as 1.500 unidades por semana. Hoje a produção está na faixa dos mil semanais. No pior momento da crise,a venda semanal de drinques caiu para 200.

Jonas Aisengart,sócio do Quartinho,em Botafogo — Foto: Divulgação/Vinicius Bordalo
— A procura está num ritmo crescente — garante Aisengart.
O episódio levou o grupo a dar início à concretização de um sonho antigo: o desenvolvimento de marcas próprias de gin,vodca,cachaça e rum. A meta é produzi-las com equipamentos terceirizados.
— Vamos acompanhar de perto cada etapa da produção — diz Aisengart.
O objetivo é lançar quatro marcas já no primeiro semestre do ano que vem.
De acordo com o último boletim sobre o tema divulgado pelo Ministério da Saúde,há 97 casos de intoxicação por metanol em bebidas registrados no país. Desses,62 foram confirmados e 35 ainda estão sob investigação. O número de mortes chegou a 16 sendo nove no estado de São Paulo,três no Paraná,três em Pernambuco e uma em Mato Grosso. Há outros 10 óbitos em análise: cinco em São Paulo,quatro em Pernambuco e um em Minas Gerais.