2025-05-16
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Então presidente do Uruguai,José Mujica cumprimenta pessoas nas ruas de Santiago,após encontro com o o então presidente chileno,Sebastián Piñera — Foto: Claudio Reyes / AFP
GERADO EM: 15/05/2025 - 23:51
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Pepe Mujica havia acabado de tomar posse quando um de seus antecessores o aconselhou a ser mais formal. “O presidente precisa criar uma aura de mistério ao seu redor”,justificou Luis Alberto Lacalle. Na visão do conservador,era necessário “manter a distância” para exercer o poder.
“Nem lhe dei bola”,contou Mujica,tempos depois. Ele respeitava o adversário,mas não tolerava a ideia de subir num pedestal. Acreditava que o presidente era um cidadão como outro qualquer. Por isso dispensou mordomias,manteve seu Fusca azul e continuou a viver numa modesta chácara na periferia de Montevidéu.
Ex-guerrilheiro,preso por 14 anos,Mujica foi um presidente improvável. Dirigentes da Frente Ampla tentaram barrar sua candidatura. Marqueteiros e assessores buscaram domesticá-lo. Ele ignorou os palpites e apostou no próprio instinto. “Em que confusão nos metemos,velha!”,brincou com a mulher,a também ex-tupamara Lucía Topolansky,após a vitória.
Leitor de Marx,Mujica se definia como um “anarquista crônico”. Desiludira-se com a experiência soviética no início dos anos 60,ao visitar Moscou e ver que os chefes do partido fruíam o conforto negado aos trabalhadores. “A ideia do socialismo não pode se opor à liberdade”,repetia.
Eleito com discurso contra a desigualdade,fez o que pregava. Em cinco anos,reduziu a pobreza pela metade e aumentou o salário mínimo em 250% sem descuidar das contas públicas. Um jornal espanhol o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Ele explicou que não era pobre: era austero. Para se manter livre,preferia “andar com pouca bagagem”.
No front externo,Mujica pôs seu pequeno país no mapa. Ajudou a mediar conflitos e chegou a ser cotado para o Nobel da Paz. Ateu,aproximou-se do Papa Francisco,com quem partilhava a visão humanista.
Eleito presidente aos 75 anos,o velho tupamaro virou ídolo dos jovens ao encampar a legalização do aborto,da maconha e do casamento igualitário. No livro “Uma ovelha negra no poder”,de Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz,ele diz que desejava ver o Uruguai na vanguarda,mas não considerava isso o mais importante.
O depoimento vale como lição para a esquerda latino-americana,que chorou sua morte na terça-feira: “A agenda são os ricos e os pobres. É preciso colocar no centro aqueles que estão no fundo do tacho”.
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