2025-02-11
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Presidente dos EUA,Donald Trump,durante entrevista coletiva na Casa Branca — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP
GERADO EM: 08/02/2025 - 21:33
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Donald Trump sugeriu anexar parte do território canadense. Não foi um ato isolado: em 2019,ele já havia proposto comprar a Groenlândia da Dinamarca,gerando uma crise diplomática sem precedentes com um aliado histórico. Essas declarações não fazem parte apenas de um jogo retórico agressivo,reavivado agora que ele é novamente presidente. São uma ameaça concreta à ordem mundial.
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A estratégia de Trump segue um padrão: iniciar negociações com demandas extremas,para posteriormente recuar e buscar objetivos mais modestos. Essa tática,embora possa funcionar em negociações comerciais,representa um risco catastrófico quando aplicada a questões territoriais. As normas internacionais que protegem a soberania nacional não podem ser tratadas por Trump como variáveis negociáveis num acordo comercial.
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O Canadá não é apenas um vizinho qualquer. Trata-se do maior parceiro comercial dos Estados Unidos,com intercâmbio anual de US$ 1 trilhão. A Groenlândia ocupa posição estratégica vital no Ártico,região que desperta crescente interesse de potências como Rússia e China. Em ambos os casos,Trump demonstra desprezo flagrante por princípios fundamentais do Direito Internacional.
A situação se torna ainda pior considerando o papel da Otan. Tanto Canadá quanto Dinamarca integram a aliança militar ocidental. A mera sugestão de que um integrante poderia anexar território de outro contradiz frontalmente os princípios fundamentais do pacto,que estabelece defesa mútua e cooperação entre seus integrantes. Ao relativizar esses compromissos,Trump enfraquece a própria estrutura de segurança que os Estados Unidos ajudaram a construir no Pós-Guerra.
No campo econômico,as consequências também são péssimas. A instabilidade política gerada por ameaças territoriais afeta os mercados financeiros e as decisões de investimento. Quando um líder democrático flerta com ideias imperialistas,acordos comerciais congelam,e alianças estratégicas definham. O próprio intercâmbio comercial com o Canadá,vital para a economia americana,poderia sofrer sérios abalos.
A erosão dos princípios diplomáticos pode desencadear consequências em cascata. Países com ambições territoriais,observando a flexibilização americana desses conceitos,podem sentir-se encorajados a avançar suas próprias agendas expansionistas. A China poderia intensificar suas reivindicações sobre Taiwan,citando o precedente americano.
A ordem internacional liberal — erguida sobre princípios como inviolabilidade das fronteiras e respeito à soberania nacional — enfrenta hoje um de seus maiores desafios: a erosão desses valores por dentro do próprio sistema que os criou.
*João Nasser é historiador formado pela Universidade Federal Fluminense e mestre em ciência política pela Fundação Getúlio Vargas (CPDOC)