Como o Estado Islâmico inspira ataques de lobos solitários, como parece ser atropelamento em massa em Nova Orleans?

2025-01-03 HaiPress

Policial vigia trecho da Rua Bourbon,onde ocorreu o ataque da noite do Ano Novo em Nova Orleans — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

RESUMO

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GERADO EM: 02/01/2025 - 18:21

Estado Islâmico: Recrutamento e Radicalização Global.

Grupo terrorista Estado Islâmico incita ataques de "lobos solitários" como atropelamento em Nova Orleans. Uso de redes sociais para radicalização e propagação de discursos extremistas. EI recruta globalmente,apelando a indivíduos para realizar ataques. Persistência do grupo,mesmo após derrotas militares,evidenciada por ações no Afeganistão e África. Maior preocupação com atos solitários nos EUA. Medidas de segurança e desafios na prevenção de ataques terroristas.

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Em janeiro de 2024,em uma longa mensagem de áudio,um porta-voz do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) fez um apelo para que seus seguidores “lançassem ataques contra os judeus e os Cruzados (cristãos)”,usando uma retórica deturpada para defender atrocidades,usando qualquer meio disponível,inclusive contra outros muçulmanos.

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Quase um ano depois,um veículo atropelou dezenas de pessoas horas depois da chegada de 2025 em Nova Orleans,nos EUA,deixando 14 mortos e três dezenas de feridos. Segundo a polícia,o suspeito,um homem identificado como Shamsud-Din Jabbar,tinha uma bandeira do EI no veículo,e publicou vídeos louvando a organização terrorista.

As autoridades tratam o incidente como um ato terrorista,e consideram,em declarações de bastidores,Jabbar um exemplo clássico do chamado “lobo solitário”,um indivíduo radicalizado,disposto a matar e ferir o maior número de pessoas possível,e que se tornou uma arma crucial da campanha global de terror do Estado Islâmico.

Enfraquecida pelas derrotas militares na Síria e Iraque na década passada,e sem os mesmos meios de realizar ataques de grande porte,como os de Paris,em novembro de 2015,a organização passou a recorrer cada vez mais a indivíduos radicalizados em mesquitas e na internet. Ao invés de pedir que os “soldados do califado” se juntassem às suas forças no Oriente Médio,começou a sugerir ataques longe das linhas de frente,em países da Europa,Ásia e nas Américas.

Buquê de flores é colocado em grade de isolamento montada pelo FBI em local de ataque em Nova Orleans — Foto: Andrew Caballero-Reynolds/AFP

Em artigo na revista Foreign Affairs,de agosto de 2016,Barak Mendelsohn,professor de Ciências Políticas na Universidade Haverford,aponta que apelar para os lobos solitários é “é barato e relativamente fácil,e “não requer planejamento de sua parte ou mesmo contato com,ou conhecimento dos perpetradores”. Ao usar elementos locais,o EI atinge o mais devastador objetivo de uma ação terrorista: o abalo psicológico duradouro sobre uma população.

“Esses ataques são prejudiciais tanto ao espírito de uma nação quanto à sua liderança,aumentando o medo e incitando o alarmismo entre os civis,ao mesmo tempo em que fazem os governos parecerem desamparados e até mesmo incompetentes”,escreveu Mendelsohn.

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E em uma sociedade interligada,com inúmeros meios de comunicação e troca de ideias,bastou uma estratégia eficiente para atingir cada vez mais adeptos.

— O EI usou a mídia social para recrutar e fazer suas atividades — disse V.S Subrahmanian,professor de ciência da computação na Universidade Northwestern,ao portal The Media Line.

Sem filtros eficazes das empresas de tecnologia para barrar discursos extremistas,vídeos de lideranças do EI,assim como imagens de ataques e textos defendendo o assassinato de civis circulavam livremente por plataformas digitais. Uma publicação,de 2017,pedia aos “fiéis” que se dedicassem a qualquer ato que “cause dano” aos “infiéis”. Outras eram mais diretas,e sugeriam o “caminhão ideal” para matar o maior número de pessoas.

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Mas como a rede al-Qaeda,de Osama bin Laden,havia mostrado décadas antes,apenas o discurso religioso radical não era suficiente para angariar novos recrutas,seja para o "Califado",seja para agirem por conta própria contra seus pretensos inimigos. Era necessário criar um ambiente de ódio,incitar a revolta e,mais importante,determinar um inimigo.

Na década passada,imagens de crianças mortas pelos bombardeios americanos na Síria povoaram as redes sociais ligadas ao EI,e eram citadas como exemplo do “massacre de muçulmanos” cometido pelo Ocidente.

Essas imagens serviram,de acordo com autoridades do Reino Unido,como "inspiração" para Salman Abedi detonar uma bomba na saída do show da cantora Ariana Grande em Manchester,em 2017,matando 22 pessoas. No mesmo ano,Sayfullo Saipov atropelou e matou oito pessoas em Nova York,afirmando ser uma resposta ao “assassinato indiscriminado de muçulmanos no Iraque”. Nos dois casos,o EI afirmou que eram atos cometidos “por soldados do califado”,uma nomenclatura usada em ataques “individuais” de pessoas que declararam lealdade ao grupo terrorista.

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Como apontou Rita Katz,diretora-executiva da SITE Intelligence,organização que monitora atividades terroristas ao redor do mundo,os ataques do Hamas contra Israel e o início da guerra em Gaza,em outubro de 2023,deram ao EI mais um poderoso argumento para incitar ataques no exterior. Desde então,ela pontua,houve um aumento de ações dos lobos solitários,incluindo um ataque com faca que deixou três mortos na Alemanha,em agosto do ano passado,e um plano,descoberto pouco antes da execução,para realizar um atentado em um show da cantora Taylor Swift em Viena.

— Em resposta à guerra em Gaza,eles publicaram um manual operacional sobre como realizar um genocídio contra os judeus e pediram aos muçulmanos no Ocidente para atacar sinagogas e centros comunitários — disse ao The Media Line Michael Barak,pesquisador do Instituto de Contraterrorismo da Escola Launder de Diplomacia e Estratégia Governamental da Universidade Reichman — A retórica deles pede uma jihad para punir Israel e o Ocidente.

'Apresentador' criado por IA por agência de notícias associada ao grupo terrorista Estado Islâmico — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Nos EUA,o alerta soou meses antes do atropelamento em massa em Nova Orleans.

— O que vemos como a ameaça mais perigosa para os americanos hoje são,em grande parte,atores solitários,alguns casos pequenas células,se preferir,amplamente radicalizados online,já aqui nos Estados Unidos,atacando alvos fáceis,usando armas rudimentares de fácil acesso,motivados por inspirações jihadistas ou por uma variedade de inspirações domésticas — disse em março,em depoimento ao Congresso,o diretor do FBI,Christopher Wray.

Apesar da bandeira do EI encontrada no carro de Jabbar,e de suas publicações exaltando o grupo terrorista,a organização não fez qualquer declaração afirmando que o veterano do Exército de 42 anos,nascido no Texas,era um de seus “soldados do califado”.

Contudo,a simples menção ao seu nome serve como lembrete de que,embora não esteja mais no controle de vastas terras anunciadas como o paraíso na Terra entre Iraque e Síria,o grupo está se fortalecendo em sua base atual,o Afeganistão,e em bolsões na África e Oriente Médio. E como mostraram os massacres os arredores de Moscou e em Kerman,no Irã,no ano passado,o EI ainda é capaz de lançar operações de grande porte,não dependendo apenas de seus lobos solitários.

— Aos olhos de uma pessoa comum na rua,o EI estava acabado há anos — disse Shiraz Maher,diretor do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização,ao Financial Times,em junho do ano passado. — Ataques como esses [em Moscou] são eles dizendo: “não se esqueçam de nós,ainda estamos aqui e ainda representamos uma ameaça”.

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