2024-09-24 HaiPress
Retomada do programa terá como um dos focos a conclusão de obras paradas. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho,no Fundão. — Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
GERADO EM: 24/09/2024 - 05:02
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Desde o dia 6 de maio quando foi assinado o contrato de gestão compartilhada,o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Fundão),o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira e a Maternidade Escola,pertencentes a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),passaram a ser administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh),vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Um balanço dos cem primeiros dias sobre essa mudança foi apresentado pelo presidente da empresa,Arthur Chioro,ontem,durante uma coletiva no salão do Auditório Halley Pacheco,nas dependências do hospital.
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Nesses três meses,a prioridade foi dada à contratação de pessoal,abertura de leitos e aquisição de insumos,embora a infraestrutura das unidades hospitalares,historicamente sucateada,ainda careça de melhorias. No prédio de quase 50 anos,ainda é possível ver áreas deterioradas e depósitos de sucata,refletindo o abandono de décadas.
Enbserh apresenta balanço dos 100 primeiros dias de gestão compartilhada com Ministério da Educação — Foto: Jéssica Marques/ OGLOBO
Entre as principais ações da nova gestão estão a contratação de 424 profissionais de saúde e o investimento de mais de R$ 50 milhões em insumos hospitalares. Houve também a renovação do Parque Tecnológico com a aquisição de 760 computadores,um investimento de R$ 258 mil. Além da ampliação de 13% de leitos,inicialmente eram 331 vagas e foram para 375,sendo 44 novos leitos. Desses,27 estão ativos,com seis deles na área de cardiologia,nefrologia,hematologia. Enquanto 17 unidades seguem fechados aguardando uma data de abertura. Daqui a um ano,está prevista a abertura de mais 120 leitos.
Novos equipamentos para patologias,cirurgias oftalmológicas e um tomógrafo também foram adquiridos. No Hospital Clementino Fraga,foram abertas mais 45 vagas semanais para cirurgias de catarata,enquanto a Maternidade Escola expandiu a oferta de laqueaduras,passando a realizar 50 procedimentos por mês.
Arthur Chioro havia previsto como meta a reabertura de 36 leitos de internação nos primeiros cem dias. Agora,ele afirma que,até outubro,com o avanço das licitações,as obras em áreas críticas,como a dos elevadores,onde mais da metade está inoperante,devem ter início.
Retomada do programa terá como um dos focos a conclusão de obras paradas. Hospital Universitário Clementino Fraga Filho,no Fundão. — Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
— O diagnóstico mostrou que a situação era mais grave do que imaginávamos e exigia uma série de intervenções. Vamos resolver essa situação dramática e vergonhosa — declarou Chioro.
A Ebserh também anunciou que deverá receber mais de R$ 115 milhões em investimentos do Novo PAC,R$ 211 milhões do Programa Nacional de Qualificação e Ampliação dos Serviços Prestados por Hospitais Universitários Federais (PRHOSUS),além de R$ 130 milhões em emendas parlamentares solicitadas para 2025.
— O uso dos recursos do PAC depende de projeto arquitetônico. Estamos,nesse momento,terminando a contratação da empresa que vai fazer os projetos. Se ele já tivesse pronto,eu já começaria a usar o recurso,mas não consigo licitar uma obra sem o projeto de arquitetura. Agora,algumas outras questões estão sendo feitas em paralelo. Por exemplo,a troca dos elevadores. O diagnóstico que a gente fez é mais grave do que a gente tinha de informação. Em quatro deles,não dá para fazer sequer Retrofit. Vão ter que ser trocados totalmente. Se tudo der certo na licitação,devemos começar em outubro — complementou o presidente da Ebserh.
A dona de casa Rose dos Santos,de 60 anos,faz tratamento Hanseníase desde janeiro no Hospital do Fundão. Moradora da Rocinha,na Zona Sul do Rio,ela conta que enfrenta dificuldades no tratamento já que a unidade não possui acessibilidade. Ela vai ao hospital uma vez por mês acompanhada do filho que usa muletas devido a um problema no joelho.
— Eu sou uma idosa e meu filho tem problemas de mobilidade. Toda vez que chegamos no hospital,ficamos por quase 20 minutos esperando um elevador vagar para conseguir transitar pela unidade. Não temos condições de subir quatro,cinco andares de escada — afirma Rose ao ressaltar que percebeu pequenas mudanças.
— O banheiro era uma questão melhorou,mas o elevador ainda é um problema. O banheiro do 5° andar estava em péssimas condições. A pia era quebrada e vazava água. Agora,está dando para usar. Percebi que pintaram algumas paredes,mas isso está longe de ser o ideal. O hospital precisa de uma intervenção e obras mais profundas na estrutura.
A empresária Marlucia Rodrigues Salgado,53 anos,há um mês passou a frequentar as dependências do hospital para acompanhar o pai,Zaqueu Salgado,83 anos,que enfrenta um câncer no estômago. Moradores de Cachoeiras de Macacu,na região metropolitana do estado,ela e a família afirmam que o idoso tem recebi um bom tratamento na UTI,apesar da estrutura da unidade.
Marlucia Rodrigues acompanha o pai,de 83 anos,durante visista enquanto ele está internado na UTI do Hospital do Fundão — Foto: Jéssica Marques/ OGLOBO
— Meu pai está sendo muito bem tratado pela equipe médica. Ele está se internado com estado grave de saúde,mas,graças a Deus,o leito em que ele foi colocado é novo e está em bom uso. Espero que outros pacientes possam ter a mesma sorte. Ter um atendimento de qualidade em uma boa estrutura faz toda diferença na recuperação do paciente — afirmou Marlucia.
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC),a Ebserh foi criada em 2011 e,atualmente,administra 45 hospitais universitários federais,apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Ela se trata de uma estatal que somam 65 mil trabalhadores e presente em 25 estados,com mais de 9 mil leitos,203 mil cirurgias/ano,mais de 55 mil alunos graduação,mais de 8.500 residentes e mais de mil programas de residências.
Para as unidades da UFRJ,serão contratados 1.243 funcionários que vão trabalhar em regime CLT. Está nos planos da empresa substituir,a curto prazo,os cerca de 800 funcionários extraquadros e,a longo prazo,com as aposentadorias,todos os servidores concursados por celetistas.
Sob protestos,adesão dos hospitais da UFRJ à Ebserh volta a ser tema de debate — Foto: Reprodução
São justamente o novo modelo de contratação e a incerteza de como ocorrerão as substituições as críticas feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da UFRJ. Ao longo da última década parte do corpo acadêmico se posicionou contra a chegada da empresa pública,que somente ano passado conseguiu um acordo para assumir as unidades da UFRJ por 20 anos. Há 42 anos no Clementino Fraga,a técnica de enfermagem e coordenadora do sindicato Laura Gomes diz que teme pelo futuro dos profissionais que serão substituídos.
Um manifesto foi entregue pelo sindicato durante a coletiva. O Sintufrj (Sindicato dos GTrabalhadores em Educação da UFRJ) reforçou sua posição contra o modelo de gestão da Ebserh.
"Destacamos que a nossa luta não é contra os colegas que fizeram concursos para a empresa. Muito pelo contrário,queremos saudar todos e todas. No entanto,questionamos o porquê de não ter concurso pelo RJU pela mesma carreira que lutamos para aprimorar?",questionava um trecho do manifesto.