2024-08-20 HaiPress
Ex-presidente argentino Alberto Fernández — Foto: Rodrigo Néspolo - LA NACION
GERADO EM: 20/08/2024 - 04:30
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A denúncia de agressão contra o ex-presidente Alberto Fernández mantém a Argentina em suspense. Desde que veio a público a acusação de Fabiola Yañez,que foi primeira-dama durante o mandato de Fernández (de 2019 a 2023),novos dados,versões e depoimentos sobre o caso surgem diariamente,enquanto o processo judicial está sob sigilo.
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Já vazaram fotos da mulher com hematomas no olho direito e em um braço. Ela afirmou que também sofreu assédio e “terrorismo psicológico” e que Fernández a chutou enquanto ela estava grávida do filho que tiveram juntos há dois anos. O Ministério Público já acusou o ex-presidente peronista de lesões agravadas por ocorrerem num contexto de violência de gênero,mas Fernández nega as acusações e garante que provará a sua inocência. A seguir estão os principais protagonistas do caso.
Durante os últimos 20 anos,Fernández (Buenos Aires,1959) foi um dos nomes-chave do peronismo,primeiro como um poderoso funcionário do Kirchnerismo,depois como seu oponente e,finalmente,como seu aliado. Foi chefe de gabinete de ministros durante a presidência de Néstor Kirchner (2003-2007) e continuou no cargo por mais sete meses,no início do mandato de Cristina Kirchner (2007-2015). Mudou para o peronismo dissidente até que o ex-presidente o nomeou como candidato presidencial,tendo ela como companheira de chapa,para evitar a reeleição de Mauricio Macri (2015-2019). A aliança que lhes permitiu vencer as eleições e formar o seu Governo rompeu-se rapidamente,sob o cerco da pandemia,da seca,das lutas internas e das próprias carências e indefinições. A denúncia da ex-companheira tem impacto letal para a carreira política de Fernández. “Não bati na Fabíola,nunca bati em mulher”,defendeu-se Fernández,afirmando que deixará isso claro na Justiça. Sua casa foi alvo de uma eção policial e seu telefone foi apreendido para ser examinado.
“Socos”,chutes,sacudidas,“violência física e mental" foram algumas das agressões que a jornalista e atriz Yañez (Río Negro,1981) relatou ter sofrido do ex-presidente. O relacionamento do casal começou em 2014 e os abusos vieram dois anos depois,segundo a versão de Fabíola,quando ele a forçou a fazer um aborto. Segundo sua história,a violência começou a se tornar comum enquanto moravam na residência presidencial de Olivos,após a vitória de Fernández nas eleições de 2019. "À noite,sempre com reclamações e discussões que terminavam em tapas",segundo o relato,que também aponta que Fabíola maquiava-se e cobria os hematomas para ajudá-lo.
A ex-primeira-dama Fabíola Yañez mostra hematomas no braço e olho roxo; imagens são parte da acusação contra ex-presidente da Argentina Alberto Fernández — Foto: Reprodução
Tudo piorou em agosto de 2021,quando se soube que ambos haviam violado as medidas de confinamento sanitário durante a pandemia de Covid-19 no ano anterior,com uma festa para comemorar seu aniversário. A partir daí,disse ela,Fernández passou a responsabilizá-la pelo declínio do seu governo. Após a separação,no final do ano passado. Yañez agora mora em Madrid com seu filho Francisco,de dois anos,e sua mãe.
Por décadas atuando como secretária particular de Alberto Fernández,María Cantero foi a porta para se chegar ao escândalo. Tudo começou com uma denúncia por supostas irregularidades – que chegaria a Fernández – na contratação de seguros ao Estado. A investigação judicial colocou em destaque María e seu marido,Héctor Martínez Sosa,corretor de seguros que,segundo a denúncia,teria arrecadado altas comissões como intermediário. Os investigadores apreenderam o telefone de María e lá encontraram mensagens de Fabiola Yañez informando que Fernández havia batido nela,incluindo fotos. “Ontem à noite ele quis me enforcar só porque eu lhe falei a verdade,que ele estava coagindo uma amiga minha a dormir com ele”,é uma das mensagens que Yañez teria enviado a María,segundo vazamentos ao imprensa do processo judicial. As respostas da então secretária presidencial variaram entre “não conte a ninguém que você me mandou isso,vou falar com ele” e “ele está com muitos problemas,num momento de muita pressão”. María Cantero foi intimado a prestar depoimento nesta quinta-feira.
O juiz encarregado do processo por possíveis irregularidades no seguro também conduz o caso contra Fernández por violência doméstica. Juiz federal desde 2004,Ercolini (Buenos Aires,1962) tinha em mãos numerosos casos delicados do kirchnerismo,e o ex-presidente Kirchner certa vez o apontou como um dos juízes que realizaram “perseguição judicial” contra ele. Na Faculdade de Direito foi era colega de cátedra de Alberto Fernández e se consideravam amigos,mas se distanciaram. Tanto é que o ex-presidente o contestou – sem efeito – na causa do seguro,alegando manifesta inimizade e lembrando que o Executivo havia pedido para investigar o juiz por presentes virtuais – para uma viagem que magistrados,funcionários e empresários da mídia fizeram em 2022 para a mansão do milionário Joe Lewis no sul da Argentina. Quando Fabiola Yañez formalizou sua denúncia contra Fernández,em 6 de agosto,Ercolini proibiu o ex-presidente de deixar o país,aproximar-se de sua ex-companheira ou comunicar-se com ela.
Do final de 2022 até dezembro de 2023,quando o governo de Javier Milei dissolveu a pasta,Ayelén Mazzina (San Luis,1989) foi Ministra da Mulher,Gênero e Diversidade. Segundo o que Fabiola Yañez disse perante o juiz na última terça-feira,em viagem ao Brasil ela contou a então ministra o que estava sofrendo e até mostrou fotos dos hematomas em seu corpo,mas a funcionária não a ajudou. Ayelén negou: “Em nenhum momento Yañez me informou sobre qualquer situação de violência de gênero”,indicou em documento apresentado ao Ministério Público. Ayelén será investigada por suposto descumprimento de suas obrigações como funcionária pública.
O atual reitor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Argentina de la Empresa foi chefe da Unidade Médica Presidencial durante o mandato de Fernández. Segundo depoimento de Fabiola,o médico sabia dos episódios de violência. Depois de um “terrível soco” que a deixou com um olho roxo em 2021,disse Fabiola,Saavedra a examinou e prescreveu um medicamento homeopático. O médico ainda não foi convocado para depor no caso,assim como o prefeito da residência de Olivos.